Formado em 2010 na cidade industrial de Volta Redonda/RJ, o DEAF KIDS teve como sua primeira encarnação um projeto musical de Douglas, uma mistura punk/hardcore embebida no crust/D-beat com suas outras influências. Logo, uma versão ao vivo da banda foi formada, e pouco tempo depois a banda se estabilizou na sua formação atual, com Mariano no bateria e Marcelo no baixo.
Sete anos, muitos shows do Sul ao Norte do Brasil, duas turnês europeias, oito lançamentos e mais de 200 shows depois, a banda segue firme nos caminhos que levam ao auto-questionamento e à desprogramação mental através do som.

Seus lançamentos mostram diferentes abordagens aos ásperos e hipnóticos ritmos que formam o D-beat - como o ataque desenfreado de 7'' 'Six Heretic Anthems for the Deaf' de 2012, ou o punk fora dos trilhos e os monolitos apocalípticos que formam 'The Upper Hand', lançado em LP em 2014. Residentes e vivendo juntos em São Paulo desde 2015, compondo e criando como uma unidade, seus gostos musicais e estéticos diferentes - somados ao crescimento do espectro musical de cada um e o interesse comum em grooves hipnotizantes e ritmos psicodélicos de todo o mundo - culminaram na evolução da banda em uma experiência ainda mais extrema. O processo resultante pode ser visto na injúria mental e repetições entorpecentes do split 7'' com os Norte-Americanos do Timekiller de 2015 e na absurdidade avant-garde, selvagem e psicodélica que é 'Configuração do Lamento', último registro da banda de 2016 - além da descarga catártica de energia das apresentações ao vivo. Livremente desprendidos de gêneros musicais, atualmente a banda se vê conectada com a produção de batidas expansivas, tanto contínuas quanto explosivas - música desafiadora que carrega um imprimatur Brasileiro (e Latino Americano) em si - um filho legitimamente bastardo do caos colonizacional, tanto aqui-e-lá, preso entre diferentes visões de mundo, complementares e opostas - tentando balancear essa condição numa tentativa de capturar a intensidade de ditas condições e expressá-la através do som.

Configuração do Lamento, o sétimo e mais recente álbum do grupo, foi lançado pela Neurot Recordings em vinil 10'' e CD em Outubro de 2017.
Steve Von Till, o fundador da Neurot Recordings e membro da cultuada banda Neurosis explica como seu caminho cruzou com a da banda:
"Li pela primeira vez sobre o DEAFKIDS quando vi uma headline do Cvlt Nation que dizia 'Essa banda soa como nenhuma outra!'
Minha natureza cínica me fez ver nisso uma bravata, então decidi comprar o blefe e cliquei no link... e tive a mente explodida.
Não estava preparado para o quanto gostaria desse álbum. Cru, poderoso e explosivamente/psicodelicamente pesado.
Acho que ouvi mais três vezes ali mesmo, no ato. Toquei o disco para meus companheiros de banda da primeira vez em que estivemos em uma sala juntos, e todos nós concordamos - 'Precisamos lançar um disco do DEAFKIDS.' Então aqui está, pela primeira em vinil e CD, o mesmo registro que me atraiu pela primeira vez à adentrar o seu universo sônico." As duas bandas se apresentaram juntas no primeiro show do Neurosis no Brasil, em dezembro do mesmo ano.

Configuração do Lamento é um lançamento indomado, feliz em justapor uma riffagem drone monolítica com desvios poliritmicos frenéticos,
com a banda citando as batidas sincopadas de percussões africanas como uma grande influência. É uma mutação cavernosa, flamejante de psicodelia, que similarmente pretende fritar a percepção do ouvinte, e ao mesmo tempo vazia de qualquer coisa que se aproxime de uma melancolia terrena, plenamente fluida em sua natureza, sem levar em consideração nenhuma expectativa musical que não a lógica interna de seus criadores. Um bombardeio de percussões galopantes segue junto à guitarras incessantemente castigadas, e toda uma sorte de manipulações eletrônicas, efeitos que na prática tratam de confundir ainda mais os procedimentos. Usar o termo psicodélico no seu sentido mais amplo é apto, pois a banda cita que "gêneros do não-gênero" são uma fonte maior de inspiração, referenciando o seu próprio background no punk, cruzando caminhos até o krautrock e/ou spiritual jazz - praticamente qualquer forma que permita ao artista experimentar com os totais extremos da expressão musical.

Um tema chave no coração desse registro singular é a crise de identidade por dentro de um país colonizado, o conflito que surge quando uma cultura imperialista é forçada, resultando em um sentimento drástico de não-pertencimento. A música em si mesma ilumina o tema, com várias influências contrastantes se infiltrando no som da banda. Como um projeto, eles falam das ramificações da hegemonia cultural específica do Brasil, especificando que, "graças ao modo que a colonização aqui se deu, uma certa parte da experiência brasileira é marcada por um senso de fratura -- somos filhos da fronteira... tanto aqui como lá." Sendo os aspectos contextuais da banda fascinantes como são, eles também insistem que com a música há vital importância em se render à um certo grau de "não-racionalidade, no sentido de que a obra não deve ser usada como fonte narrativa para somente espalhar ideias mentais/verbais". É essa colisão de ultraje político indo de encontro à completa liberação corporal e mental que faz de Configuração do Lamento um trabalho indubitavelmente destemido e inspirador.


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Formed in 2010 in the industrial city of Volta Redonda/Rio de Janeiro, Deaf Kids' first iteration was a solo idea by Douglas, delivering a fuzz-soaked blend of crust/d-beat and the many other musical offerings he had to offer.
Soon, a live-performing unit was assembled, and a few months after the lineup was stabilized, with Mariano on drums and Marcelo on bass.
Seven years, many gigs across Brazil, two European tours, eight releases - more than 200 shows after, Deaf Kids remains steadfast onto the multiple paths that lead into the self-questioning and sonic deprogramming of minds.

The band's releases carry different takes on the sheer and hypnotic beats that comprise D-beat, like the full throttle noisy assault of 2012's 'Six Heretic Anthems for the Deaf' EP or the cavernous, off-the-rails hardcore and apocalyptic monoliths that comprise 2014's 'The Upper Hand' LP. As the band moved to live together in São Paulo, composing and creating as a full unit, the different musical and aestethical tastes - mixed with the broadening of each one's musical spectre and the common interest on mesmerizing grooves and psychedelic overwhelming rhythms from all over the world - flipped the band onto an even more extreme experience. The resulting process can be checked on the mind-abusing, lingering repetition of 2015's split with USA's Timekiller, the 2016/2017's avant-garde wild and psychedelic absurdity that is 'Configuração do Lamento' - and the cathartic energy discharge of it's live perfomances. Nowadays Deaf Kids see itself connected to the production of expanding dirges, both steady and explosive - overwhelming music that carries a Brazilian (and Latin American) imprimatur on it - a legitimate bastard child of the colonizational chaos, both here-and-there, trapped between different, complementar and opposing worldviews, trying to balance this condition on an attempt to capture the intensity of said conditions and expressing it through sonic ways.

The band seventh and most recent album, Configuração do Lamento, was released by Neurot Recordings on 10'' vinyl and Digipack CDin October 2017 - Neurot label founder and member of Neurosis Steve Von Till explains how he came across the band: "I first read about DEAFKIDS when I saw a headline from Cvlt Nation that read, ‘This Band Sounds Like No Other!’ My cynical nature believed that to be a tall order, so I decided to call their bluff and clicked on the stream… MIND BLOWN. I was not prepared for how much I would love this record. Raw, powerful, and explosive heavy psych. I think I listened to it three times in a row right then and there. I played it for my bandmates the first time we were all in a room together and we all agreed, ‘We need to put out a DEAFKIDS record.’ So here it is, for the first time on vinyl and CD, that very same DEAFKIDS recording that first lured me into their sonic world." The two bands played together on Neurosis' first concert ever in Brazil, in December of the same year.

DEAFKIDS’ Configuração Do Lamento is an untamed release, happy to juxtapose monolithic drone riffage with frantic polyrhythmic detours, the band citing the syncopated beats of African drums as a major influence. It is a guttural, scorched mutation of psychedelia, that similar intent of frying the listener's perception, while void of anything approaching earthy wistfulness, wholly fluid in nature, paying no heed to any musical expectations other than the creators own internal logic. A bombardment of clanging percussion sits below relentless guitar battering, and a whole host of electronic tamperings, effects which in practice manage to further confound the proceedings. Using the term psychedelic in the absolute loosest sense is apt, as the band claims that “non-genre genres” are a chief source of inspiration, referencing anything from their own background in punk, right the way through to spiritual jazz, practically any form which allows the artist to experiment with the utter extremes of musical expression.

A key theme at the heart of this singular record is the crisis of identity within a colonized country, the conflict that arises when an imperialist culture is enforced, resulting in a drastic feeling of displacement. The music alone illuminates this theme, various contrasting influences seeping into the bands sound. As a project, they speak of the ramifications of cultural hegemony specific to Brazil, specifying that, "thanks to the way colonization happened here, a certain part of the Brazilian experience is bounded by a sense of fracture -- we're sons of the border... here and there."

Though the contextual aspects of the band are fascinating, they also insist that with music, there is a vital importance in surrendering to a degree of "non-rationality, on the sense that it should not be used as a narrative resource for spreading verbal/mental ideas". It's this collision of political outrage set against complete bodily and mental release, that makes DEAFKIDS’ Configuração Do Lamento an undoubtedly fearless and inspiring piece of work.


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